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Por Gillian Tett, Financial Times


Na última semana, manifestantes em todo os EUA fizeram protestos para exigir a “liberação” das medidas de confinamento adotadas pelos Estados para conter a propagação da covid-19.

Estimulados pela crença de que a economia tem de reabrir para proteger a saúde das atividades econômicas das pessoas, esses protestos (muitas vezes frequentados por ativistas antivacina e de extrema direita) tendem a produzir quadros de TV multicoloridos — e mensagens desagregadoras nas redes sociais que o presidente, Donald Trump, se sente tão satisfeito em promover. Mas à medida que esses protestos aumentam, desencadeando protestos do establishment médico americano, isso levanta uma questão: existe um limite para o quanto dever custar a contenção de uma pandemia?

Muitos de vocês — inclusive os médicos — poderão gritar “não!”. Certamente o valor de uma vida humana não pode ser medido só com a economia. E a covid-19 é tão nova que é difícil submeter sua trajetória a um modelo matemático. Na Nova Zelândia, no entanto, um dos principais institutos de análise e pesquisa se aventurou a adentrar esse campo minado moral.

Em “Quantifiying the Wellbeing Costs of Covid-19”, um estudo encomendado pela instituição pró-mercado New Zealand Initiative e publicado no começo do mês, Bryce Wilkinson examina algumas escolhas fiscais em torno do coronavírus em relação a saúde, bem-estar e custo. Concorde-se ou não com essa abordagem, vale a pena ler os resultados.

Em primeiro lugar, o trabalho de Wilkinson sugere que existe, de fato, um limite racional à ação — embora elevado. Empregando pesquisas preexistentes (empreendidas em 2017) para avaliar o que poderia acontecer se uma pandemia do estilo da Gripe Espanhola de 1918 atingisse a Nova Zelândia, ele atualizou essa estrutura para a covid-19, junto com dados do Produto Interno Bruto (PIB).

A que conclusão chegou Wilkinson? À de que o governo da Nova Zelândia poderia justificar um gasto de até 6,1% do PIB no combate à pandemia, a fim de salvar 33.600 vidas (o número de mortes projetado pelo Ministério da Saúde do país para o caso de uma pandemia descontrolada).

O governo também poderia justificar um gasto de 3,7% do PIB para salvar 12.600 pessoas (o resultado projetado para o caso de a pandemia ser controlada mais rapidamente). Mas Wilkinson conclui: “Gastar mais [do que essas quantias] levanta a questão de se não se poderiam salvar mais vidas ao longo do tempo se esse dinheiro fosse destinado, em vez disso, à construção de rodovias e prédios mais seguros ou talvez gasto em outros serviços de saúde”. E, embora ele ressalte que os resultados são “altamente condicionados [a vários fatores]” e que seu trabalho é “uma contribuição ao debate público, nada mais”, Wilkinson acredita que “avaliar essas escolhas é essencial para a boa orientação de política pública e tomada de decisões, como as medidas de confinamento e de fechamento de fronteiras”.

Na verdade, o próprio governo da Nova Zelândia conseguiu evitar as implicações mais sombrias dessas escolhas. Quando chegou o coronavírus, o governo anunciou um pacote de estímulo no valor de 4% do PIB (embora Wilkinson acredite que esse percentual vá subir). Mas o governo pôs o país num confinamento tão eficaz que o saldo de óbitos é de apenas 13. A premiê, Jacinda Ardern, diz agora que a Nova Zelândia “fez o que poucos outros países conseguiram fazer” na contenção da propagação do vírus, e está se preparando para abrandar os controles.

Outra questão interessante levantada pelo estudo de Wilkinson: por que há tão poucos outros economistas tentando calcular o custo dessas escolhas de uma maneira tão explícita? A resposta óbvia é que isso pareceria quebrar todos os tipos de tabus políticos e culturais. Afinal, os tabus são poderosos porque revelam ambiguidades que preferimos ignorar. E, em muitas culturas, supõe-se que a vida é sagrada e que não podemos ser avaliados por meio do simples dinheiro — embora seja isso o que os governos fazem implicitamente todos os dias. Discutir dilemas que envolvem morbidade deixam os eleitores horrorizados.

Há outro fator também: os nichos de conhecimento. Como destaca o escritor e consultor Christian Madsbierg, a competência em determinado assunto na cultura ocidental tende a ser muito tribal: enquanto os economistas falam de economia e os epidemiologistas, da pandemia, quase ninguém ousa misturar os dois campos. Se Deborah Birx, a assessora médica-chefe da Casa Branca, oferecer orientação fiscal, haverá protestos; o mesmo acontecerá se Steve Mnuchin, o secretário do Tesouro dos EUA, quiser nos dar uma aula sobre “o achatamento da curva” de óbitos. Isso não surpreende: são necessários anos de estudo para se tornar um especialista. Mas é aí que está a dificuldade: quase todas as decisões importantes das democracias atuais exigem essa análise “que rompem as barreiras entre os nichos de conhecimento”. Sem isso é impossível discutir as escolhas em torno de pandemia ou qualquer outro assunto.

Portanto, cumprimento Wilkinson por publicar seus modelos especulativos — ainda que polêmicos — e gostaria que outros fizessem o mesmo, inclusive os Tesouros nacionais, que têm de fazer seus próprios cálculos particulares dessas escolhas. Tabu ou não, esses números podem, ao menos, desencadear o devido debate democrático. Nestes tempos difíceis, isso é algo de que precisamos desesperadamente.

— Foto: Kathy Willens/AP

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